segunda-feira, 18 de julho de 2011

Envelhecimento e memória

 
Aline Elisabete Pereira *

Seguidamente lemos e ouvimos reportagens sobre o envelhecimento, suas características e possíveis precauções para evitar o declínio em algumas capacidades. Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), nos últimos anos houve um aumento na população acima dos 60 anos. Em 2000, cerca de 8% (14,3 milhões) de habitantes eram pessoas com mais de 60 anos e a previsão para 2025 é que esse número suba para 15% (35 milhões). Tal fato instigou diversos estudiosos de diferentes áreas do conhecimento a buscarem maneiras de oferecer a essa população um envelhecimento saudável que possa ser vivido com autonomia, disposição e alegria.
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O envelhecimento de um organismo faz parte do ciclo vital. E todos nós (se não houver interferências) passaremos por esse ciclo: nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer. O envelhecimento, até pouco tempo, era visto como uma fase da vida em que o sujeito deveria ficar sentado em sua “cadeira de balanço”, não fazer muitos esforços, descansar, enfim, “aproveitar” a vida que outrora foi de muito trabalho e pouco tempo para o descanso. Hoje, surgem novos paradigmas para essa fase da vida, pois idosos podem e devem levar uma vida ativa, fazendo ou continuando a fazer coisas de que gostam e, muitas vezes, aprender coisas que não conseguiram antes. Hoje, o segredo está em envelhecer com qualidade de vida, autonomia para realizar exercícios físicos, boa disposição para testar novas habilidades e participação em atividades que exijam esforço da memória.
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A memória é uma das mais importantes funções do cérebro humano. Ela representa a base para o desenvolvimento da linguagem, do reconhecimento das pessoas e dos objetos com que temos contato diariamente, dentre outras capacidades essenciais para a convivência social e a organização pessoal. Ou seja, sem a memória seríamos vegetais, intelectualmente mortos (BADDELEY, 1986). Assim, cada pensamento que temos, cada palavra que pronunciamos, cada ação da qual fazemos parte, devemos à memória, à capacidade do nosso cérebro de registrar e armazenar nossas experiências.
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O envelhecimento é visto, também, como estando associado à dificuldade de memória, aos esquecimentos que o idoso demonstra no dia a dia. Alguns tipos de esquecimentos são chamados de “esquecimentos benignos”, ou seja, não são classificados como doenças. Acontecem quando esquecemos o nome de uma coisa ou pessoa e sentimos o nome na “ponta da língua”, ou o que iríamos fazer quando chegamos a determinado lugar. O estresse, a ansiedade e a falta de atenção normalmente são os responsáveis pelos “esquecimentos benignos”. Mas pessoas que sofrem algum tipo de doença, como o Alzheimer, ou sofreram algum tipo de AVC (Acidente Vascular Cerebral), podem apresentar problemas no momento de recordarem alguma informação. Se as dificuldades de lembrança forem além do trivial, a pessoa deve procurar um profissional para receber um diagnóstico preciso das dificuldades de memória.
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Há inúmeros estudos que indicam atividades que buscam melhorar o desempenho da memória. Dentre elas está a prática de leitura, seja de jornal, de livro ou de um manual religioso. A leitura é importante porque exercita a atividade intelectual, ou seja, exercita o cérebro levando-o a pensar e refletir, a fazer associações com o que foi aprendido. Além disso, atividades como palavras cruzadas, jogo de xadrez ou outras tarefas que exigem atenção também auxiliam na sua manutenção. Outra dica é estimular a memória, isto é, aprender algo novo, diferente, como manusear um notebook, por exemplo.
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Prestar atenção no que se está fazendo é algo decisivo para o bom desempenho da memória. Interferências sempre estarão por perto, mas é preciso fazer um esforço e focalizar a atenção naquilo que é mais importante. No entanto, é quase impossível prestar atenção se estivermos ansiosos ou nervosos. A ansiedade é um dos grandes inimigos da memória, então, é preciso aprender a lidar com as emoções e amortecer o estresse. Para isso, controlar a pressão arterial, ter uma alimentação saudável e ler com frequência são fundamentais. A prática de agendar ou anotar as tarefas é extremamente importante, porque auxilia na organização das informações que recebemos diariamente.
Uma boa noite de sono também auxilia no bom desempenho da memória, porque durante o sono profundo o cérebro se desconecta dos sentidos e processa, revisa, armazena e descarta memórias. Os sonhos, na visão científica do cérebro, é o descarte das informações que não viraram memórias.
Sem dúvida, na terceira idade ocorre diminuição da memória que, na maioria das vezes, é benigna, mas por falta de informação o idoso tem dificuldade de aceitá-la como um fato normal. A compreensão disso e o uso de recursos como os já citados auxiliam a lembrar e permitem que o idoso viva com mais autonomia e satisfação.

* Mestre em Letras pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)

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