quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Encontro com os escritores Daniel Galera e Leonardo Brasiliense

Um se interessou pela literatura desde criança. O outro disse que só se lembra de ter lido depois que entrou na universidade. Daniel Galera e Leonardo Brasiliense participaram de um bate-papo no dia 2 de setembro, às 19h30min, no Auditório Central da Unisc, dentro da programação da 23ª Feira do Livro e da XI Semana Acadêmica do Curso de Letras. Tal atividade foi coordenada pelo professor Norberto Perkoski, docente do Departamento de Letras.


Galera nasceu em São Paulo, mas se considera "totalmente gaúcho", já que mudou-se para Porto Alegre ainda bebê. Foi lá que cresceu, estudou e começou a se aventurar com as letras. À vontade com as possibilidades que sua época oferece, publicou seus primeiros contos na internet, no final da década passada, e até hoje encontra na rede uma forma de se manter em contato com o público. Agora, com três romances no currículo, outro sendo gestado, prêmios importantes conquistados, filiado à prestigiada Companhia das Letras (depois de ter publicado de maneira independente durante um tempo), é reconhecido como um dos grandes nomes de uma incipiente geração de escritores que desponta Brasil afora.

Embora seja grande o número de novos talentos surgindo, e as boas relações que mantêm, ele recusa a ideia de formarem uma vanguarda estética. "Isso está ultrapassado, as vanguardas já chutaram os baldes que tinham a chutar", explica. "Hoje os autores buscam referência onde querem". Uma de suas fontes declaradas de experiências são as obras com as quais toma contato em função de seu ofício principal, que é o da tradução. Sendo o inglês sua especialidade, naturalmente tornou-se mais afeito a literatura norte-americana e britânica. "Do ponto de vista criativo, traduzir é quase como escrever".

O desejo de escrever ficção consolidou-se quando cursava Publicidade e Propaganda em Porto Alegre. As habilidades propriamente ditas, aperfeiçoou na oficina literária com Luis Antonio de Assis Brasil, que em 25 anos já formou escritores como Cintia Moscovich, Carol Bensimon, além do próprio Galera. Seu primeiro livro foi a coletânea de contos Dentes Guardados, escrita entre os 18 e 21 anos, como diz, sua "pós-adolescência e infância literária."

Não por acaso, suas obras atraem a atenção de crianças e jovens, filhos da mesma geração que ele, os anos 90. Foi essa época que inspirou livros como Até o dia em que o cão morreu e Mãos de cavalo. O primeiro virou filme em 2007. Para o segundo, já existe projeto elaborado, assim como para o mais recente, Cordilheira. Ambos estão à espera de financiamento. Sobre o próximo, não quis falar muito, e indicou apenas qual será o cenário da história: a cidade de Garopaba, onde viveu uma fase de sua vida.

Aliás, sua vida ainda guarda resquícios de juventude. Mora sozinho, trabalha só em casa e principalmente de madrugada, joga videogame, pratica natação e corrida. Sua única preocupação, no que toca a carreira, é concretizar o projeto ao qual se dedica no momento. Prêmios e títulos ficam para depois.

Brasiliense descobriu com o tempo que podia ser escritor, e começou a escrever por preguiça. "Lá pelas tantas eu virei escritor, e alguém leu meus livros. Mas não foi uma coisa que eu decidi". Antes disso, entrou na faculdade de medicina, não por escolha própria. Mas porque seus pais queriam e já que estava lá, decidiu fazer como Freud, estudar psicanálise. Não durou muito, hoje trabalha na Receita Federal, estuda roteiros de cinema e fotografa, além dos sete livros publicados. O último é o livro Três Dúvidas, lançado no início de 2010.

Trocando experiências entre si e com o público os autores conversaram ao longo da noite. Dando dicas para escritores iniciantes e também contando seus tropeços.

Contar a própria história é difícil porque a vida pode ter vários começos. Lembro o primeiro dia de aula da primeira série, hora da chamada, a professora disse Leonardo, ninguém respondeu, ela repetiu Leonardo, aquele silêncio, daí ela leu o nome todo e me dei conta de que o Leonardo era eu, porque em casa até então só tinham me chamado de Junior, de Junico, de Nico. Depois tinha 22 anos e era tardinha, décimo sexto andar de um apartamento na Duque de Caxias, em Porto Alegre, vista para o Guaíba. 22 é uma boa idade para se nascer. A gente estava estudando, a gente estudava muito naquela época, psicanálise, eu disse pro meu amigo: me alcança um cigarro. Tossi, fiz bastante fumaça, Freud teria rido de mim, Freud estava ali mesmo, rindo de mim. Depois me acordei numa repartição pública em Santana do Livramento, a vinte metros da divisa do Brasil com o Uruguai, 25 anos, há menos de seis meses tinha acabado a faculdade de medicina, largado a psicanálise em nome da literatura, 25 anos, Técnico do Tesouro Nacional, tudo pela literatura. Um escritor tinha que pelo menos contar a própria história com início, meio e fim. Quer dizer, o fim é póstumo. Sempre tem uma parte que a gente perde.

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